Gol vôo 1907: Uma carta para minha parceira, grande amiga Te.


Eu continuo ligando para o celular dela... Parece uma vontade firme de manter a pessoa ainda aqui, conosco, podendo atender...
A voz dela na caixa postal é firme, informa o número, pede que deixe o recado e diz que vai ligar assim que puder. Agora liguei de novo e parece que a caixa postal está cheia...
Este texto vai meio no presente, de propósito, porque a intenção é esta, é a certeza de que nada acaba por aqui, a gente continua sendo, existindo, do lado de lá...
São tantos pensamentos e sentimentos nessa hora, é difícil organizar as coisas na cabeça. Agorinha mesmo eu pensei que o número de pessoas que tiveram a oportunidade de mudar suas vidas com seus ensinamentos, falando sobre “pensamento estratégico”, qualidade de vida, paixão no que se faz, liderança e tantos outros temas, deve ter passado de mil, de repente de dois mil. E o número de pessoas que tiveram a oportunidade de simplesmente conhecê-la, qual será?
Quem esteve presente em suas palestras e treinamentos sabe o tamanho do seu magnetismo. Dava para sentir no ar a energia das pessoas circulando pela sala através dos seus comandos. Impressionante mesmo. As pessoas ficam vidradas ouvindo-a falar.
A palavra que me vem à mente agora é GENEROSIDADE. Ela gosta muito desta palavra, eu também. Nós sempre falamos em generosidade para descrever pessoas muito, mas muito especiais mesmo, que são de nosso convívio. E generosidade me parece ser a palavra-chave neste momento.
Deus tem seus desígnios e nós somos pequenos demais para questioná-los. Mas que a gente fica meio de bico, ah, a gente fica.
Pois é, parece que Deus decidiu que já era hora dela voltar para o plano astral, que já era hora dela levar para lá tudo que aprendeu e desenvolveu aqui. Cabe a nós agora descobrir nossa GENEROSIDADE para entender e permitir em nossos corações que ela realmente passe para o plano de lá. O difícil é agüentar a saudade que já se pronuncia, a idéia de que o convívio não será mais possível. Mas logo vem o conforto... eu agora posso falar com ela, mandar mensagens, pensamentos, na hora em que eu quiser. Ela vai ouvir, ela vai receber meus recados. Claro que talvez não na velocidade de um telefonema e de um e-mail. Mas na velocidade dos que são agora etéreos, uma velocidade que ainda não compreendemos. Quem sabe ela não nos visita em sonho? Quem sabe ela não nos acompanha em silêncio, guiando nossos passos a partir de agora. É mais um reforço do lado de lá, mais uma torcedora ferrenha pelo nosso sucesso, pela nossa felicidade.
Nosso encontro foi daqueles meticulosamente desenhados pelos astros. Procurei empresas de treinamento e achei uma perto de casa, no Flamengo, e resolvi me apresentar. Já na primeira entrevista vieram conselhos valiosos que eu segui. Pouco depois veio a proposta de um trabalho free. Em seguida outro trabalho. E então a relação se estabeleceu. Foram muitas reuniões, alguns treinamentos, algumas viagens. Como a gente conversa, nossa! Sobre tudo. Os jantares nos hotéis sempre foram agradáveis, duas gulosinhas devorando batata frita e pensando na sobremesa...
E como a gente discute... Uma desafia a outra, questionando idéias, metodologias, processos. E a gente adora estas discussões, porque a gente sabe que o desenvolvimento intelectual e espiritual é garantido como saldo final. Dá trabalho, mas é bom!
Ela sempre foi meio amiga, meio guru, meio conselheira, meio mãe. Me deu dicas valiosas, é do tipo que mal você fala do que precisa e ela já passa a mão no telefone. Foi a dica do sanduíche a metro para o chá de bebê da Laura, a dica de que a creche deve ficar perto de casa, foi o bebê-conforto, um presente valioso, e tantos outros...
Ela se emocionou de verdade quando viu a Laura. Disse que a vida é um milagre. Que quando um bebê nasce, aquele instante pertence à mãe e ao bebê apenas e que é um momento mágico. Aí ela se lembrava do nascimento dos seus filhos e contava as histórias repetidas vezes, vibrando de emoção em todas elas. Sempre disse que era para eu dar toda a atenção do mundo para a Laura quando estiver amamentando.
Ela curtiu a gravidez inteira, acompanhou as reboladas da Laura na minha barriga, ajudou nos enjôos sempre me encorajando, brincou horrores comigo e com o Felipe no chá de bebê. Quando a Laura nasceu ela não pôde estar presente, mas telefonou e me disse palavras muito bonitas.
Nosso penúltimo encontro foi engraçado, íntimo. Conversamos sobre trabalho, mas principalmente sobre minhas questões pessoais às voltas com a maternidade, com a família, com tudo novo. Só eu, ela e Laura. Ela ria e se divertia com a Laura me fazendo trocar sucessivas fraldas. No último encontro a Laura dormiu no colo dela, relaxadinha. Ela depois saiu correndo, tinha um compromisso, mas a gente tinha marcado um trabalho, era certo que logo logo nos veríamos. Dias depois ela ligou e eu não pude atender, ficou só o recado na secretária eletrônica dizendo que o documento que eu tinha enviado estava ok.
Eu não sei se ela sabe o impacto que teve sobre a vida de tanta gente. O impacto que teve sobre a minha vida. O quanto eu mudei e amadureci com ela, o quanto me desenvolvi profissionalmente, o quanto pude melhorar como pessoa. Sou apenas uma representante de tanta gente que ela tocou e para quem ela fez o mesmo que fez comigo.
E agora, o que faz com que meu peito esteja doendo, como se tivesse um nó no estômago e um aperto na garganta, é saber que ela não vai curtir a Laura tão de pertinho como eu gostaria. A Laura vai ouvir muitas histórias sobre ela, com certeza, mas eu sinto muito pelo fato da Laura não ter o privilégio de aproveitar o convívio diário. Sim, porque o convívio com ela é um presente da vida.
A lembrança que fica é dela entrando no escritório, de maneira vigorosa como sempre, fazendo barulho, rindo e falando de braços para o alto: “eu não quero trabalhar hoje!!!”. Claro que a gente trabalhava, mas este tom logo de cara já ditava o ritmo do bom humor. A gente se divertia muito...
Tenho fé de que a partida foi serena, almas arrebatadas gentilmente antes do impacto. Acredito também que a chegada lá foi com comemoração pelos que a aguardavam com ansiedade. Imagino que tenha muito estudo e trabalho por lá, mas que ela nos acompanhe e esteja conosco de onde estiver.
Escrevo esta carta após ler a notícia na Internet dando a certeza que nós não queríamos ler. Vem uma semana difícil pela frente, mas a força para superar tudo isso foi uma das lições que ela deixou. A gente não pode decepcionar agora.
Te, é assim que me despeço temporariamente de você. Minha parceira, minha amiga, minha “jedi mor”. Eu, a pequena “padawan”, fico aqui firme, seguindo seus passos. A gente se encontra, tá?!
1 Comments:
At 1:40 PM,
Anônimo said…
Só hoje tive forças para terminar de ler essa carta, e, é claro a saudade apertou mais ainda. Mas me veio uma imagem tão bonita da Te na cabeça e que eu acabei sorrindo. Antes de ler, ainda não tinha parado para pensar qual havia sido a última vez que eu a tinha visto. Foram apenas alguns minutos, mas esse pequeno momento fala tanto do ela é, do que ela representa para nós, da sua força e vitalidade. Na sexta-feira antes da viagem, ela ligou para o escritório pedindo para eu deixar um envelope na portaria e que ela passaria rapidamente de táxi e pegaria. Falei que esperaria ela para que ela não precisasse descer do táxi, e foi o que eu fiz. Desci e fiquei lá aguardando uns 5 minutos e logo vi no meio do trânsito, aquele sorriso largo, suas mãos acenando ... como sempre, muito apressada, indo para mais um compromisso ... sempre brinco que ela funciona a 220 volts ... sabendo disso tentei furar o trânsito para não atrasá-la, e ela simplesmente acenando "calma", e estacionou o táxi rindo do meu desespero ... pegou os documentos e nos despedimos ... Acho que esse momento não durou nem 2 minutos, mas fala exatamente como era a Te: bem humorada, brincalhona, apaixonada pelo trabalho, vivendo numa correria saudável e sempre nos ensinando muito.
Agradeço por ter compartilhado com ela momentos como esse.
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