Laura chegou!

Ela é linda, fofa, interessante, cheia de carinhas engraçadas. Tem um rostinho de boneca e já consegue ser muito doce. Seu cabelinho tem cheiro de baunilha! Sua presença já é imensa na nossa casa! Ela é a Laura, minha "filha filha", o maior presente que eu poderia ter recebido nesta vida. Acho que eu sou a mãe mais apaixonada do mundo. Apaixonada pela Laura e pelo Pai da Laura, co-autor desta obra preciosa.

17 agosto, 2006

Relato do Parto



Esta foi a primeira imagem que eu tive da Laura. No canto inferior direito da foto dá pra ver um pedacinho do meu rosto.



Olha o tamanho do cordão!!! Detalhe para o cocozinho dela... adorei!



Esta mão é do Felipe, ele foi muito corajoso!






Eu passei a minha gravidez inteira lendo relatos de parto e imaginando como seria o meu. Eu falei na terapia que eu tinha vários temores em relação ao hospital, ao tratamento que receberia das enfermeiras, da falta de controle sobre a situação, mas tinha uma forte intuição de que o parto em si seria muito tranqüilo. Eu me preparei para ter um parto normal, fiz o curso da Perinatal em que fui super incentivada pela enfermeira que disse que eu estava “fazendo a força” certinho quando me sentei na cadeira de parto para experimentar e também fui incentivada pela obstetra que disse que minha estrutura óssea era ótima.

Lembro também de uma ultra que eu fiz há alguns anos, reclamando de muitas cólicas, ocasião em que a médica que me examinou disse categoricamente: “ah, se você tem muita cólica vai ter parto normal tranqüilo, pode deixar!”. E por fim, minha mãe falou que quem fica muito inchada na gravidez (alguém disse isso a ela...) costuma ter parto normal (?).

Isso posto, fica aqui estabelecido que eu queria ter parto normal...

Well...

No dia 12 de julho, quarta-feira, eu fui ao Rio Sul com a minha mãe e com a minha irmã para fazer as últimas compras de preparativos para a chegada da Laura. Era também uma forma de aliviar minha ansiedade e me tirar de casa. Nesse dia foi aniversário da minha avó e por mais que ainda faltassem 10 dias para a data prevista, a minha mãe estava na torcida para que a Laura nascesse. Depois de muitas andadas eu comecei a sentir bastante cólica e lá fui eu no Buscopan como prova terapêutica. A dor passou.

No dia seguinte eu não senti nada, fiquei apenas triste porque recebi um telefonema dizendo que a minha médica não poderia me atender na sexta e que estava me encaminhando para uma colega da clínica. Na sexta de manhã recebi um técnico do Velox aqui em casa e enquanto ele fazia o reparo no telefone eu senti uma dor forte, parecia uma contração. Ele logo falou: “moça, é bom a senhora ligar pra alguém porque é assim que começam as dores do parto”. Liguei pra minha mãe e ela logo chegou. Fomos para a clínica, eu já reclamando de dor e o taxista perguntando se a gente tinha certeza de que não era para o hospital que a gente tinha que ir. Na clínica, as atendentes logo viram meu estado e agilizaram a minha consulta. Eu me lembro de ter ficado me segurando pra não chorar, ficava olhando fixamente para um ponto. Na consulta o veredicto: apenas 1 dedinho de dilatação, colo do útero ainda grosso, um bom tempo por vir. Perguntei à médica se eu ficaria ainda uma semana daquele jeito, mas ela disse que não acreditava que fosse demorar. Então, o final de semana foi em esquema de plantão: muitos comprimidos de Buscopan para aliviar a dor, meus pais aqui em casa jogando truco e a bolsa de apostas rolando solta: sábado? domingo? segunda? Eu apostava em terça. Nada.

Muito desconcertada liguei pra marcar mais uma consulta com a obstetra. Os dias foram passando, eu sentia muitas dores, às vezes parecia uma contração, mas sempre a coisa deixava de evoluir. Eu andava pela casa, respirando fundo, tentando me alongar, às vezes melhorava, às vezes não. Nesta altura do campeonato, a chegada da Laura era uma possibilidade, tinha deixado de ser uma certeza para mim. Eu sei que isso é louco, mas era assim que eu me sentia. Cheguei a caminhar no play, tentando ver se era a falta de movimento que estava atrapalhando.

Na consulta com a obstetra, dia 20 de julho, ela achou melhor pedir uma nova ultra e uma nova cardiotocografia (um exame que monitora os batimentos cardíacos do bebê e as contrações da mãe). Os exames mostraram que a Laura estava realmente prontinha para nascer, mas que não dava sinais de que seria tão logo assim. Tive uma pequenina contração, nada demais. E o mais chato, ela estava com o cordão umbilical passando embaixo do pescoço, nada preocupante em princípio, apenas um alerta. Voltei pra casa esperando mais algum sinal. Eu já havia começado a perder o tampão mucoso na semana anterior, então esperava que os outros sinais aparecessem.

Na sexta dia 21 eu passei o dia todo com muitas dores. Minha mãe veio me ver e insistiu em me levar para andar novamente no play. Caminhamos por meia hora, mas foi muito difícil. Eu sentia muita dor, muita dor mesmo, cada passo era um martírio. Mas eu sentia que precisava me mexer um pouco. E haja Buscopan. Teve um momento em que eu pedi bem forte para os espíritos me ajudarem, meu anjo da guarda, Jesus, todo mundo. E perguntei: “quando vai ser?” A resposta veio imediatamente: “dois dias”. Simples assim.

De madrugada, eu fiquei acordada, tomei Buscopan e finalmente senti uma dor diferente. O Buscopan tirava a dor “básica” que eu sentia, mas eu comecei a sentir de tempos em tempos uma dor aguda, bem marcada, com início, meio e fim. E comecei a cronometrar. Começou de hora em hora, sem muito rigor no intervalo, mas bem marcada quanto à duração. O sábado inteiro foi de cronometragem destas dores, ora evoluía, ora voltara a intervalos bem longos. Ainda bem que meus pais vieram e nós jogamos truco de novo. Liguei pra minha médica e ela falou que ainda era “pródomo”, o falso trabalho de parto, que antecede o verdadeiro. Para não ficar dúvida, ela sugeriu que nós fossemos para o Hospital para uma consulta de emergência na qual seria verificada a situação. Decidi ir apenas no dia seguinte e a noite de sábado para domingo transcorreu com a mesma expectativa e muitas anotações da cronometragem.

No domingo de manhã, dia 23 de julho, eu já sentia dor de vinte em vinte minutos, mais ou menos, e o Felipe me levou para o Hospital. Já com as malas no carro, mas sabendo que voltaríamos para casa. Na consulta o médico viu que eu estava com apenas 2 de dilatação e confirmou o diagnóstico de pródomo. Ele me explicou que a contração endurece o útero e que enquanto eu não sentisse isso o trabalho de parto não tinha começado. Eu me senti super frustrada porque estava com muita dor, muita mesmo, os intervalos da dor eram cada vez menores e a intensidade ficava gigante. Ainda por cima acabava de receber a informação de que o trabalho de parto não havia começado. Os médicos se falaram, eu tomei mais um pouco de Buscopan e voltei pra casa depois de uma nova cardio e nenhuma contração. Pelo menos sabia que a Laura estava bem.

Já em casa, fui olhar na Internet que raio de pródomo era esse. Li, entendi e, claro, não gostei! As dores foram aumentando. Me senti a pessoa mais sozinha do mundo, sentindo uma dor imensa, chorando, sem receber um conforto. Principalmente, eu estava começando a ficar triste, porque sabia que eu sentiria dor, mas não imaginava que era tanto assim, ainda mais sem evolução do trabalho de parto. Eu já estava sem dormir direito desde a sexta-feira, me senti cansada, sem muita força para lutar e suportar a dor. A idéia da cesariana passava cada vez mais freqüentemente pela minha cabeça.

Felizmente meus pais resolveram vir logo e quando chegaram eu tinha acabado de sair do banho. O único lugar que tinha me aliviado era embaixo do chuveiro. Quando eles viram que eu estava mal mesmo, insistiram para que eu ligasse pra médica e pedir uma nova orientação. Ela falou pra gente voltar pro hospital e nós fomos rapidinho. Nesta hora as dores já duravam mais ou menos um minuto e vinham a intervalos de 5 minutos.

Quando chegamos no Pan Americano a minha internação já estava pedida e tudo foi muito rápido. A médica decidiu que o parto seria naquele dia, de qualquer maneira, em função do meu estado de dor. Ainda nada de contração, nada de estourar a bolsa, mas as dores rapidamente passaram a intervalos menores até ficarem quase emendadas. Todos foram excepcionais comigo. O Felipe agilizou tudo, foi super organizado. Nós ficamos meio distantes um do outro, eu sabia que ele estava preocupado, mas também pensei em poupá-lo um pouco. Minha irmã ficou comigo direto, me mandava respirar, ficar calma. As lembranças são ligeiramente confusas, acho que a dor faz isso com a gente. O plantonista que me atendeu veio no quarto para avisar que a equipe estava pronta, que era só a minha médica chegar e ele riu quando me viu, porque eu tinha achado uma posição confortável encostada na parede, encostada mesmo, com o ouvido colado na parede do quarto. Depois de muitos telefonemas do Felipe minha médica chegou e eu comecei a ter esperanças.

Ela foi super carinhosa comigo, me encheu de beijinhos, eu achei aquilo muito bom. Ela me examinou e viu que realmente o trabalho de parto não tinha evoluído em nada. Ela chegou a me ver tendo uma contração, mas a dor já era quase constante. Quando ela falou que poderia induzir eu só balancei vigorosamente os braços dizendo que não, que aquilo era o meu limite. Então estava decidido, eu faria uma cesariana em poucos instantes. Veio a enfermeira e viu que eu precisava da tricotomia, mas como a médica não havia pedido, seria mais rápido alguém fazer isso no quarto mesmo.

Durante este dia eu já havia começado a passar por algumas experiências extremamente marcantes, assuntos de terapia, e parece que a solução veio toda de uma vez só. Porque depois de todos estes anos fora da casa dos meus pais, de repente eu me vejo pelada na frente de todos ali no quarto, bundão de fora, o Felipe e minha mãe fazendo a tricotomia juntos... Quer mais entrega do que isso?

Pouco tempo depois, ainda chorando muito, fui levada para o centro cirúrgico. Ontem mesmo eu perguntei pro Felipe como foi esse momento, porque eu só conseguia me lembrar das luzes no teto que a gente vai vendo quando está sendo levado de maca para algum lugar. Cheguei na sala de cirurgia chorando alto e a equipe logo começou a falar: “chorona, chorona”, meio brincando, meio sério. Veio uma mulher e disse: “fica calma mãe” e eu falei “eu não tô nervosa, eu estou com dor”. O anestesista começou a trabalhar rapidamente, ele dizia “moça faz isso, moça faz aquilo” e eu urrando de dor, tendo que me dobrar inteira para o procedimento. Quando a minha médica chegou, no meio daquela dor toda eu ainda pensei: “nossa, como você fica bonitinha vestida de médica...”. Só pensei, não falei, imagina que mico... Mais uma vez a Dra Juliana foi jóia, foi ela que me segurou e ficou me dando beijinhos. Quando a anestesia começou a fazer efeito eu falei pra ela: “Dra Juliana, diz pra eles que eu sou valente, que eu não sou manhosa” e ela concordou. Logo veio a outra médica que tinha me atendido na semana anterior e eu me senti super sortuda por perceber que as duas fariam meu parto juntas. Ela falou: “nossa bichinha, como você sofreu, ficou uma semana sentindo dor”. O anestesista começou a colocar um monte de remédios no meu soro e eu fui ficando cada vez mais calma (mais grogue também), mas aí eu já estava bem melhor. Quando o Felipe chegou ele estava super gelado, eu fiquei preocupada. Falei pra ele encostar-se à parede pra não passar mal, mas ele estava se segurando firme. O anestesista reparou na câmera fotográfica e eu fiquei conversando sobre a máquina (queria fazer uma média com o cara, afinal ele tinha as “drogas”, hehe). Aí a Dra Juliana falou: “tem alguém interessado na Laura aí? Estão conversando sobre máquina fotográfica, vê se pode!”

E então o momento mágico: minha cabeça foi erguida e eu pude ver a minha filha pela primeira vez! Quando eu a vi, tive certeza de que era ela, de que era a minha filha. Em segundos puder ver meus traços nela, toda uma familiaridade, uma sensação de êxtase, de felicidade, de plenitude, sei lá. Vi que ela estava fazendo cocô (o nome certo é mecônio) e achei engraçado. Pensei que estava na hora dela sair mesmo. E realmente a bichinha estava com o cordãozão no pescoço, não apertando, mas presente o suficiente para ter dado nessa quizumba toda. Quando a médica confirmou que não havia jeito mesmo de eu ter tido parto normal me senti um pouco mais aliviada, como se não tivesse sido uma falha minha, mas algo que realmente fugiu do meu controle. O Felipe fotografou tudo e eu estava atenta para ouvi-la chorar. Ela chorou um pouco depois, um choro fraquinho, mas bonitinho. O pediatra veio mostrá-la para mim, colocou a Laura no meu colo e eu fiquei muito emocionada. Como eu não parava de tremer ele ameaçou tirá-la (é impressionante como os médicos adotam uma postura autoritária, firme, a gente obedece na hora...) e aí eu me segurei. E quando eu a vi de pertinho, pensei em como ela era bonita! Eu sabia que ela seria fofa, mas ela era realmente muito bonita, me senti orgulhosa. Esta sensação é quase indescritível, receber um filho pela primeira vez nos braços, é como se o mundo parasse por alguns instantes. Tiramos fotos e eu enfim comecei a relaxar. O Felipe foi com o pediatra para o berçário e as médicas começaram a finalizar a operação. Aqueles minutos são intermináveis, eu queria logo ficar com a Laura, mas a gente tem que ficar lá, ouvindo a equipe conversar, sem saber o que está acontecendo lá fora. Eu perguntei pelo Apgar e a informação veio depois: 9/9, excelente! No final as médicas me deram parabéns, disseram que a Laura era linda mesmo, passaram as instruções do pós-operatório (especialmente a ordem de não falar!!!) e se despediram.

Fui levada de volta pro quarto, tremendo pra caramba (é um dos efeitos da anestesia) e fiquei tentando identificar quem estava lá. Vi que meus sogros tinham chegado e fiquei contente por eles terem ido. Eu queria contar pra todo mundo como tinha sido tudo, mas não podia falar. Colocaram um bloquinho e uma caneta ao meu lado e eu fiquei me comunicando por bilhetes. Mas eu tremia muito, era difícil escrever. Teve uma hora em que eu fiquei sozinha com meu pai e eu quis agradecer por tudo, pela presença dele naquele dia. Sei que todos foram importantes, mas meu pai tinha sido a figura mais presente para mim, porque eu percebi como ele ficou agoniado com as minhas dores. Ele vinha me fazer carinho, me falava para ter fé, para confiar em Deus. Eu sabia que ele estava se importando muito e isso foi fundamental para mim. Por bilhete eu disse a ele que a minha perna estava torta e pedi para ele me arrumar na cama. Ele riu e disse que perna estava normal.

Eu havia deixado com a minha estagiária uma lista de pessoas a serem avisadas quando a Laura nascesse e pedi pra minha irmã ligar pra ela e avisar que ela poderia começar a fazer os telefonemas. Isso foi ótimo, ela rapidamente ligou pra todo mundo e o Rafael (padrinho) e a Tati ainda conseguiram fazer uma visita naquela mesma noite.

Depois que todo mundo foi embora minha filha veio para o quarto. A enfermeira do berçário me incentivou a amamentá-la, mesmo deitada e nós conseguimos. Foi maravilhoso! A Laura ficou comigo e com o Felipe no quarto até a madrugada, quando nós pedimos para levarem-na de volta ao berçário. Eu tinha que ficar naquela posição horizontal e estava exausta. O Felipe também não se agüentava de cansaço. Pensamos no melhor para a Laura e ela ficou então no berçário entre 2 e 6 da manhã. Eu estava muito contente, meio agitada ainda. Eu pensava: “como é que alguém pode dormir tendo acabado de ter um filho???”

Ficar com a Laura foi maravilhoso, ela passou a segunda feira toda conosco. Recebemos várias visitas, foi a maior festa. Eu logo de manha tomei banho, mais uma vez me senti super bem cuidada pelas enfermeiras que me ajudaram a levantar. Elas foram calmas, esperaram meu tempo e cuidaram bem de mim. Me encorajaram a caminhar para aliviar o incômodo geral e eu me senti bem.

Na terça de manhã tivemos alta e por volta de meio dia já estávamos em casa. Tudo correu bem.

O nascimento da Laura foi a experiência mais marcante da minha vida. Não só pelo evento em si, mas também por ter me feito passar por sensações e vivências limite. Eu que sempre quis controlar tudo, ser independente, me vi não tendo controle sobre a situação e me vi também sendo cuidada pelos outros. Podendo receber carinho e atenção, aceitando o fato de que eu precisava de ajuda. Isso foi excepcional e eu serei eternamente grata por ter podido viver isso. Hoje eu me sinto diferente, me sinto marcada por esta experiência. Precisar tanto dos outros me fez mais forte, por entender que isso é vida. É viver intensamente, é poder lidar com as emoções assim, de forma tão profunda.

Hoje eu estou curtindo a minha bonequinha, a Laura é o maior presente que eu podia receber. Agradeço meus pais e minha irmã pelo super apoio que eles me deram e têm me dado, agradeço ao Felipe por ter ficado tão calmo e ter entendido o espaço que meus pais precisavam ocupar. Agradeço à Dra Juliana pelo carinho que ela me deu. E principalmente à Laura que, generosamente, aceitou vir para a Terra como nossa filha, para este reencontro conosco. Eu sou uma mãe muito feliz!

2 Comments:

  • At 4:09 PM, Blogger Diogo Santos Personal said…

    Gente que lindo!!!
    A Laura é linda... vocês são lindos!!! A história de vocês é linda!
    Sei que você não me conhece, mas estava vendo alguns blogs na net e acabei encontrando o de vocês! Me senti na obrigação de vir desejar a vocês tudo de bom, de lindo... que Papai do Céu os ilumine sempre e que a Laura tenha um futuro magnifico e feliz.... Que ela seja bem vinda!!!!!
    Sem explicação mesmo.... parabéns!!! Curtam esse momento de agora para sempre!!!
    Beijos e parabéns!
    Fiquem com Deus!!!!

     
  • At 7:56 PM, Anonymous Anônimo said…

    Vc é uma guerreira, tenho muito orgulho de vc!!! Te amo

     

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